Coreto da Praça Clementino Fraga em Muritiba (BA)
Não existe em nosso país,nenhum outro símbolo de cultura musical,que possa se igualar ao coreto.Que nos perdoem os acadêmicos,mas o coreto nos exibe traços mais largos com a arte das musas que o proscénio,porque ele é palco,ribalta,e platéia numa só dimensão.
Como dádiva das musas,o coreto não herdou apenas o diáulo de Euterpe.Herdou,também,a pena do Clio,e a rima de Erato,porque o coretoé,ao mesmo tempo,música,história e amor.E,para completar,a sua pláteia vibra e aplaude sob o manto de Urânia,porque tem os astros como teto.
O coreto que tanto se identifica com o musicólogo,com o historiador,com o poeta e com o político,merece,num todo,uma análise profunda do sociólogo,que deve senti-lo como força de expressão cultural e como ponto de encontro de homens e idéias.
Domingo:19:30 hs.Terminou a ladainha.O sino repica em festival.Rompem aos pés da praça os acordes de um tradicional dobrado.É a banda que marcha alegre para o coreto.O povo se agita.A meninada assanhada corre ao encontro dos metais,das palhetas e da percussão.A banda que chega,é o povo que canta.E o coreto que a recebe,é o estribilho da festa.Bendito coreto!Bendita platéia!O coreto não é apenas o centro catalizador.Ele é o motivo,também.Ao seu redor,o "vai" pertence às moças,e o "vem"aos rapazes.E o vai-e-vem,está em cadência brejeira de valsa,ou em pulsação vibrante do velho dobrado.Quem "vai"geralmente olha para quem "vem".E na troca de olhares nasce o amor.
Domingo:19:30 hs.Terminou a ladainha.O sino repica em festival.Rompem aos pés da praça os acordes de um tradicional dobrado.É a banda que marcha alegre para o coreto.O povo se agita.A meninada assanhada corre ao encontro dos metais,das palhetas e da percussão.A banda que chega,é o povo que canta.E o coreto que a recebe,é o estribilho da festa.Bendito coreto!Bendita platéia!O coreto não é apenas o centro catalizador.Ele é o motivo,também.Ao seu redor,o "vai" pertence às moças,e o "vem"aos rapazes.E o vai-e-vem,está em cadência brejeira de valsa,ou em pulsação vibrante do velho dobrado.Quem "vai"geralmente olha para quem "vem".E na troca de olhares nasce o amor.
Do vai-e-vem ao redor do coreto,aos degraus do altar,a distância é pequena.Finalmente,a Matriz está alí mesmo.Naturalmente,por isto,tantos casamentos.
- Lembra-se desta valsa?
- Lembro-me,claro.Na terceira volta do vai-e-vem,você "piscou" para mim.
- A banda era outra,mas a valsa é a mesma.
- E o coreto também.
A valsa é dos namorados.O dobrado é de todos.E ambos vivem no coreto.Nos bancos mais próximos do coreto são estampadas em letras firmes,a publicidade ingênua- "Gentileza do Rei dos Tecidos ".Ou posições sociais - "Oferta da Familia Ferreira".Esses bancos separam pequenas aléias que protegem os canteiros bordados de flores.Não foi,portanto,clamado por uma rima,que o poeta testemunhou,que o coreto é um palco perfumado,plantado nocoração do jardim.Por tradição e respeito,os bancos mais próximos do coreto,pertencem aos que chegam mais cedo.Ali o caboclo discute com o prefeito,o prefeito despacha,os compadres trocam perguntas,o médico receita,a professora ganha uma rosa,o advogado orienta,as matronas cochicham,o padre conforta,a cabocla sorri,o comerciante critica os novos impostos,o homem comum faz glosa, e a banda ataca um novo dobrado.Todos são iguais perante o coreto.
A Conservação dos coretos não é apenas uma questão de tradicionalismo.É também um fator de história.A sua importância não está apenas na imagem de suas linhas arquitetônicas.Ela é maior pelos resultados positivos de sua existência.A conservação dos coretos não é apenas uma questão histórica.É também,um fator de espiritualidade,porque o homem jamais esquece a fachada da sua igreja e o coreto do seu jardim.Há dois templos em todas as cidades.A Igreja e o coreto.Na Igreja o homem encontra-se com Deus através da oração.E no coreto,Deus encontra-se com ele através da música.
Autor: J.da Silva Vidal (publicado no Informativo Werial Ano 5 ,nº 26,Maio/Junho de 1982)